A qualidade do compromisso, a postura ética, a justiça das reivindicações e a unidade dos colegas médicos foram ingredientes indispensáveis para que os membros do Corpo Clínico do Hospital Araújo Jorge comemorassem com exemplo de cidadania o mês do médico.
O desenvolver do movimento que hora se mostra vitorioso não pode porém, se dar por encerrado com o atendimento imediato da pauta em questão. Com certeza os colegas sabem a dimensão ampliada do significado da luta em curso.
Foram colocados em discussão vários temas e dentro dos quais os médicos procuraram se manifestar, de maneira ordeira e organizada.
É de suma importância que se compreenda a necessidade permanente de lutar contra a exploração trabalhista do labor médico, insurgir contra a Precarização de nossas relações de trabalhos, denunciar perda da possibilidade do exercício ético de nossa profissão, o abuso de nossa mão de obra nos colocando para trabalhar cargas horárias inaceitáveis a qualquer trabalhador bem como o aviltamento sistemático do valor de nosso trabalho e as formas descompromissadas de realizar nossos pagamentos.
E mais, são incompreensíveis e inaceitáveis as situações de assédio moral a que somos submetidos com muita freqüência.
Transformar essas questões em pauta permanente da categoria médica é uma forma de ampliar nosso compromisso com a qualificação das instituições a que nos vinculamos bem como com a população que tanto necessita de nossos préstimos, fazendo dessa luta uma defesa permanente do direito de cada cidadão e cada cidadã ter acesso a uma atenção qualificada de sua saúde; é criar as condições que possibilite uma permanente disponibilização de profissionais qualificados à sociedade; é defender a qualidade na atenção do sistema Único de Saúde, de forma alguma diferenciada da qualidade da atenção das demais formas de prestação de serviço de saúde.
É mostrar o compromisso da categoria com a qualificação da gestão, é se mostrar também responsável com ela, postura esta que de forma alguma se poderá recuar.
Aqueles que não estão acostumados com a organização da sociedade, não aceitam uma forma coletiva de buscar o bem comum, agridem as lideranças que buscam esse caminho na sua integridade moral rotulando-as de “baderneiros” e “agitadores”. Mal sabem esses senhores destruidores de flores que são dessas pessoas, pessoas que se dispõe a lutar contra erros e injustiças em defesa do bem comum que nossa sociedade tanto sente falta, quanto a eles…
No Caminho, com Maiakovski
Eduardo Alves da Costa
Assim como a criança
humildemente afaga
a imagem do herói,
assim me aproximo de ti, Maiakovski.
Não importa o que me possa acontecer
por andar ombro a ombro
com um poeta soviético.
Lendo teus versos,
aprendi a ter coragem.
Tu sabes,
conheces melhor do que eu
a velha história.
Na primeira noite eles se aproximam
e roubam uma flor
do nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na segunda noite, já não se escondem:
pisam as flores,
matam nosso cão,
e não dizemos nada.
Até que um dia,
o mais frágil deles
entra sozinho em nossa casa,
rouba-nos a luz, e,
conhecendo nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta.
E já não podemos dizer nada.
Nos dias que correm
a ninguém é dado
repousar a cabeça
alheia ao terror.
Os humildes baixam a cerviz;
e nós, que não temos pacto algum
com os senhores do mundo,
por temor nos calamos.
No silêncio de meu quarto
a ousadia me afogueia as faces
e eu fantasio um levante;
mas amanhã,
diante do juiz,
talvez meus lábios
calem a verdade
como um foco de germes
capaz de me destruir.
Olho ao redor
e o que vejo
e acabo por repetir
são mentiras.
Mal sabe a criança dizer mãe
e a propaganda lhe destrói a consciência.
A mim, quase me arrastam
pela gola do paletó
à porta do templo
e me pedem que aguarde
até que a Democracia
se digne aparecer no balcão.
Mas eu sei,
porque não estou amedrontado
a ponto de cegar, que ela tem uma espada
a lhe espetar as costelas
e o riso que nos mostra
é uma tênue cortina
lançada sobre os arsenais.
Vamos ao campo
e não os vemos ao nosso lado,
no plantio.
Mas ao tempo da colheita
lá estão
e acabam por nos roubar
até o último grão de trigo.
Dizem-nos que de nós emana o poder
mas sempre o temos contra nós.
Dizem-nos que é preciso
defender nossos lares
mas se nos rebelamos contra a opressão
é sobre nós que marcham os soldados.
E por temor eu me calo,
por temor aceito a condição
de falso democrata
e rotulo meus gestos
com a palavra liberdade,
procurando, num sorriso,
esconder minha dor
diante de meus superiores.
Mas dentro de mim,
com a potência de um milhão de vozes,
o coração grita – MENTIRA!
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