*Simônides Bacelar
Existe um princípio redacional do padrão culto em que há mais qualidade usar as
palavras de acordo com suas funções e classificações gramaticais, ou seja,
substantivo como substantivo, adjetivo como adjetivo, pronome como pronome e
assim por diante. Misturar as funções dá impressão de despadronização,
exceto nos casos em que isso não seja possível. Referencial em todos os
dicionários é um adjetivo como sentido próprio e sua formação lexical com a
terminação -al é própria dos adjetivos.
Em rigor, referência e referencial não são sinônimos. Nos dicionários, como
denotação, referência é definida como ato ou efeito de referir, e
referencial é definido como relativo a referência. Como conotações, seguem
usos por extensão, figurativos e análogos.
Lexicologia. Em geral, os dicionários dão referencial como substantivo ou
adjetivo, mas em primeiro lugar como adjetivo, o que indica ser este último
o sentido próprio e preciso: ponto referencial, tema referencial, tópicos
referenciais. Como substantivo, significa aquilo que constitui uma base, um
parâmetro (L. Sacconi, Grande Dic. da Língua Portuguesa Sacconi, 2010).
No Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (Volp, 2009), referencial
consta erroneamente apenas como substantivo, o que cria confronto com os
dicionários em geral. O Houaiss (2009) o indica como adjetivo ou substantivo
O Dicionário da Língua Portuguesa Comentado pelo Professor Pasquale (2009)
dá referencial apenas como aquilo que é utilizado como referência. O
Dicionário da Língua Portuguesa, elaborado por Antenor Nascentes (1988),
lexicógrafo e filólogo, membro da Academia Brasileira de Letras, não dá
registro de referencial, senão de referência.
Existe um princípio redacional do padrão culto em que há mais qualidade usar as
palavras de acordo com suas funções e classificações gramaticais, ou seja,
substantivo como substantivo, adjetivo como adjetivo, pronome como pronome e
assim por diante. Misturar as funções dá impressão de despadronização,
exceto nos casos em que isso não seja possível. Referencial em todos os
dicionários é um adjetivo como sentido próprio e sua formação lexical com a
terminação -al é própria dos adjetivos.
Em rigor, referência e referencial não são sinônimos. Nos dicionários, como
denotação, referência é definida como ato ou efeito de referir, e
referencial é definido como relativo a referência. Como conotações, seguem
usos por extensão, figurativos e análogos.
Lexicologia. Em geral, os dicionários dão referencial como substantivo ou
adjetivo, mas em primeiro lugar como adjetivo, o que indica ser este último
o sentido próprio e preciso: ponto referencial, tema referencial, tópicos
referenciais. Como substantivo, significa aquilo que constitui uma base, um
parâmetro (L. Sacconi, Grande Dic. da Língua Portuguesa Sacconi, 2010).
No Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (Volp, 2009), referencial
consta erroneamente apenas como substantivo, o que cria confronto com os
dicionários em geral. O Houaiss (2009) o indica como adjetivo ou substantivo
O Dicionário da Língua Portuguesa Comentado pelo Professor Pasquale (2009)
dá referencial apenas como aquilo que é utilizado como referência. O
Dicionário da Língua Portuguesa, elaborado por Antenor Nascentes (1988),
lexicógrafo e filólogo, membro da Academia Brasileira de Letras, não dá
registro de referencial, senão de referência.
Um dos fatos mais frequentes na história da língua é a mudança de categoria
dos nomes (J. Ribeiro, Curiosidades verbais, s.d., p. 94). A propensão de
substantivar adjetivos para simplificação do vocabulário (lei do menor
esforço) é trivial na língua desde o latim vulgar, em que se usavam aestivus
(estio), por tempus aestivus; veranus (verão), por tempus veranus; persicum
(pêssego) por persicum pomum (fruta persa) (R. Léllis, Português no colégio,
1970, p. 58), de via strata ficou estrada, de meia calça, ficou meia, de
terra pátria, ficou pátria (do pai).
Semântica. Numerosos casos consagrados com os substantivos correspondentes
são de difícil entrosamento com o nome original: ácido, negativo (imagem
fotográfica de sombras invertidas), soldado, ouvinte, preservativo,
conservante, comprovante. Em medicina, há lavado (peritoneal, gástrico,
vesical), concentrado (de hemácias), diário (miccional), instrumental
(instrumentos, equipamento), esclerosante (agente). No entanto, usar as
lexias em suas funções sintáticas é favorável à precisão dos nomes
científicos.
O uso de adjetivo por substantivo pode enfraquecer o teor de seu significado
já que implica dependência de um substantivo que lhe completa o sentido.
Registram Brandão e colaboradores que substantivo é palavra variável com que
se dá nome aos seres animados ou inanimados reais ou imaginários, e que, na
sociedade das palavras, é o elemento mais importante. Informam em adição que
adjetivo é palavra variável que junto ao substantivo dá-lhe qualidade. Na
sociedade das palavras, o adjetivo está sempre junto do substantivo (Senado
Federal: Manual de padronização de textos, 1997, p. 92).
Frequentemente, em áreas especializadas se criam significados conotativos
para termos existentes em lugar de formar novos nomes de modo adequado, e a
participação sistemática de linguistas, especialmente os especializados em
normas de morfologia e semântica, o que muito contribuiria para
desambiguação desses nomes. A esse respeito, observam Fiorin e Savioli que
há certos termos que, na linguagem científica, ocorrem com um significado
preciso, restrito a esse tipo de linguagem, e que por isso devem ser
empregados com o rigor que assumem nesse contexto específico, que é preciso
cuidado para empregar esses termos, caso contrário, os enunciados ficam
desfigurados e descaracterizados por fundirem desencontradamente termos de
correntes científicas distintas (Para entender o texto: leitura e redação,
2007, p. 209).
A citação do substantivo correspondente ao adjetivo sempre que possível,
demonstra organização de algo completo. Na sequência, alguns exemplos com
respectivas complementações ou substantivos adequados: antimicrobiano
(agente, droga), aspirado (material) de medula óssea, deferente (ducto,
canal), clínico (médico), cortical (camada) da suprarrenal, diagnóstico
(diagnose), a íntima dos vasos (camada), hióide (osso), instrumental no
final (no fim), ordenado (remuneração), oculista (médico oculista),
berçarista (médico), plantonista (médico), oficial (agente, militar),
tireoide (glândula), deltóide (músculo), parasita (indivíduo – qualquer
espécie), patógenos (germes, agentes), suicida. (indivíduo, paciente);
italiano, francês, português e demais (idioma); às três (horas) da tarde;
reta, curva (linha); circular (carta); catedral, pastoral, matriz (igreja);
Física, Química (Ciência); locomotiva (máquina); branco, preto (de cor,
indivíduo); adesivo/a (papel, fita); plástico (material, matéria plástica),
mural (quadro), pré-natal (exame pré-natal, período pré-natal, assistência
médica pré-natal), no intraoperatório (período), zoológico (jardim, parque),
profissional (agente), vernáculo (português vernáculo). É curioso observar
que o próprio nome substantivo é um adjetivo e é só essa sua classificação
registrada no Volp (2004).
Morfologia. A morfologia pode ser um método indicativo de seleção de usos
preferenciais. O sufixo -al é formador de adjetivos por excelência, embora
alguns sejam substantivados (adicional, capital, geral, imortal) e outros
sejam raramente usados como adjetivo (bacanal, beiral, bocal).
Etimologia. Ramo da linguística que trata da origem das palavras, pode ser
valioso elemento para determinar o sentido próprio de um nome. Com efeito,
do latim re, que designa repetição, recuo, e ferre, levar, formou-se referre
levar de novo, reconduzir, (A. Ferreira, Dic. Lat. Port, 1996), que
originou referir em português, que significa expor, contar, relatar, fazer
menção a, que deu referência, ato ou efeito de referir, e este deu origem a
referencial, relativo a referência (Houaiss, 2009). Este é o sistema de
sequência que serve de orientação quando se deseja selecionar um significado
formal, tendo em vista que quase todas as palavras atuais em português
guardam o sentido do étimo e os desvios podem trazer imperfeições por
ambiguidade ou obscuridade.
A criação de neologismos é realmente muito útil à língua. No entanto, é
preciso que se formem de acordo com as normas da língua, estudadas e
elaboradas ao longo de séculos por autorizados profissionais de letras.
Assim, o sentido próprio das palavras em geral guarda relação com seu étimo.
Desse modo, esse critério se torna regra.
Estilo. Abonados autores sobre redação e metodologia científica recomendam,
em redação científica, usar de termos precisos e das palavras em seu significado próprio.
Mesmo como nome técnico, do modo em que ocorre na Matemática (Aurélio, 2009)
na própria Gramática Gerativa por seu sentido linguístico, em Física
(Houaiss, 2009) e em outros casos, referencial pode representar uso de cunho
popular, situação em que justificadamente as funções sintáticas e léxicas
cursam em livre uso.
Nesse caso, não se trata de purismo, tendência desaconselhável de afirmar
que, salvo as formas propostas em gramática, as outras estariam erradas.
No justo saber linguístico, todas as formas existentes na linguagem
constituem, com razão, patrimônio do idioma. Mas cabe afirmar que, em
linguagem científica, é controverso o uso de termos que possam levantar
questões, particularmente de profissionais de letras e de leitores
perfeccionistas, detalhistas e exigentes, tendências próprias da ciência o
que vai incluir sua linguagem, conforme proclamam bons autores em
metodologia e redação científica.
A proposição pela qual se diz que “a linguagem não tem lógica”, que “é assim
que toda a gente usa”, que “isso sempre foi assim mesmo” e que “ninguém liga
pra isso” pode configurar uma realidade linguística, mas não significa que é
o correto e que deve ser aceita como padrão de uso em todas as variedades da
língua. A elegância de estilo pode também ser contemplada no esmero pela
lógica, no cuidadoso investimento no termo mais adequado, no abrigo de
opções que não tragam questionamentos ou ao menos que tenham menor
possibilidade de contestações.
Mesmo como nome técnico, do modo em que ocorre na Matemática (Aurélio, 2009)
na própria Gramática Gerativa por seu sentido linguístico, em Física
(Houaiss, 2009) e em outros casos, referencial pode representar uso de cunho
popular, situação em que justificadamente as funções sintáticas e léxicas
cursam em livre uso.
Nesse caso, não se trata de purismo, tendência desaconselhável de afirmar
que, salvo as formas propostas em gramática, as outras estariam erradas.
No justo saber linguístico, todas as formas existentes na linguagem
constituem, com razão, patrimônio do idioma. Mas cabe afirmar que, em
linguagem científica, é controverso o uso de termos que possam levantar
questões, particularmente de profissionais de letras e de leitores
perfeccionistas, detalhistas e exigentes, tendências próprias da ciência o
que vai incluir sua linguagem, conforme proclamam bons autores em
metodologia e redação científica.
A proposição pela qual se diz que “a linguagem não tem lógica”, que “é assim
que toda a gente usa”, que “isso sempre foi assim mesmo” e que “ninguém liga
pra isso” pode configurar uma realidade linguística, mas não significa que é
o correto e que deve ser aceita como padrão de uso em todas as variedades da
língua. A elegância de estilo pode também ser contemplada no esmero pela
lógica, no cuidadoso investimento no termo mais adequado, no abrigo de
opções que não tragam questionamentos ou ao menos que tenham menor
possibilidade de contestações
Dr. Simônides Bacelar
*Simônides Bacelar
Médico, pesquisador em língua portuguesa variante redação médica científica e vernaculista pelo Serviço de Apoio Linguístico
Instituto de Letras, UnB
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