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Aprendendo com os amigos – Extrapolar

Extrapolar

Nome do âmbito matemático, designa usar qualquer processo de obtenção dos valores de uma função fora de um intervalo, mediante o conhecimento de seu comportamento dentro desse intervalo (Houaiss2009); do francês extrapoler, de interpoler, com substituição de inter por extra, do latim polare, voltar, virar (Le Petit Robert, Dic. de la Langue Française, 1996), conexo com polus, polo do mundo; do grego pólos. eixo, eixo do mundo, polo, abóbada celeste, pivô em torno do qual gira alguma coisa (Houaiss, ob. cit.; I. Pereira, Dic. Grego-Port e Port-Grego, 1990; H. Liddell, Greek-English Lexicon, 1996). Assim, literalmente, extrapolar significa ir para fora de uma estrutura central. 

 

É muito usado em sentido figurativo ou por extensão como equivalente a exceder, ultrapassar, exorbitar, ir além de, termos recomendáveis (S. Gusmão & R. Silveira, Redação do Trabalho Científico na Área Biomédica, 2000, p. 119; E. Martins, Manual de Redação e Estilo, 1997), em lugar de “A licença extrapolou o número de dias permitido”, “As expectativas extrapolaram o esperado”, “Os paciente atendidos extrapolaram de número”. Também assim se pode considerar, nesse sentido, seu cognato extrapolação. Não há extrapolamento em dicionários de referência.

 

 

Extrapolar consta da lista de termos a serem evitados em textos de jornais, publicada no manual de redação para jornalistas da Folha de São Paulo (Folha de São Paulo, Manual de Redação, 2010, p. 57). O dicionário Houaiss (2009) consigna como uso informal, extrapolar no sentido de ultrapassar os limites.

 

 

Extrapolar faz parte do modo de falar no âmbito da medicina e da língua portuguesa, o que lhe dá legitimidade de uso como fato da língua. Convém observar os questionamentos mencionados para evitar seu emprego sistemático ou preferencial no sentido figurativo ou por extensão, sobretudo como termo técnico em documentos e textos formais.

 

Simônides Bacelar

Hosp. Univ. de Brasília, UnB

Brasília, DF

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                                                                                                                  *Simônides Bacelar 

Existe um princípio redacional do padrão culto em que há mais qualidade usar as

 palavras de acordo com suas funções e classificações gramaticais, ou seja,

 substantivo como substantivo, adjetivo como adjetivo, pronome como pronome e

 assim por diante. Misturar as funções dá impressão de despadronização,

 exceto nos casos em que isso não seja possível. Referencial em todos os

 dicionários é um adjetivo como sentido próprio e sua formação lexical com a

 terminação -al é própria dos adjetivos.

 

Em rigor, referência e referencial não são sinônimos. Nos dicionários, como

denotação, referência é definida como ato ou efeito de referir, e

 referencial é definido como relativo a referência. Como conotações, seguem

 usos por extensão, figurativos e análogos.

 

 Lexicologia. Em geral, os dicionários dão referencial como substantivo ou

 adjetivo, mas em primeiro lugar como adjetivo, o que indica ser este último

 o sentido próprio e preciso: ponto referencial, tema referencial, tópicos

 referenciais. Como substantivo, significa aquilo que constitui uma base, um

 parâmetro (L. Sacconi, Grande Dic. da Língua Portuguesa Sacconi, 2010).

 

 No Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (Volp, 2009), referencial

 consta erroneamente apenas como substantivo, o que cria confronto com os

 dicionários em geral. O Houaiss (2009) o indica como adjetivo ou substantivo

 O Dicionário da Língua Portuguesa Comentado pelo Professor Pasquale (2009)

 dá referencial apenas como aquilo que é utilizado como referência. O

 Dicionário da Língua Portuguesa, elaborado por Antenor Nascentes (1988),

 lexicógrafo e filólogo, membro da Academia Brasileira de Letras, não dá

 registro de referencial, senão de referência.

 

 Existe um princípio redacional do padrão culto em que há mais qualidade usar as

 palavras de acordo com suas funções e classificações gramaticais, ou seja,

 substantivo como substantivo, adjetivo como adjetivo, pronome como pronome e

 assim por diante. Misturar as funções dá impressão de despadronização,

 exceto nos casos em que isso não seja possível. Referencial em todos os

 dicionários é um adjetivo como sentido próprio e sua formação lexical com a

 terminação -al é própria dos adjetivos.

 

Em rigor, referência e referencial não são sinônimos. Nos dicionários, como

denotação, referência é definida como ato ou efeito de referir, e

 referencial é definido como relativo a referência. Como conotações, seguem

 usos por extensão, figurativos e análogos.

 

 Lexicologia. Em geral, os dicionários dão referencial como substantivo ou

 adjetivo, mas em primeiro lugar como adjetivo, o que indica ser este último

 o sentido próprio e preciso: ponto referencial, tema referencial, tópicos

 referenciais. Como substantivo, significa aquilo que constitui uma base, um

 parâmetro (L. Sacconi, Grande Dic. da Língua Portuguesa Sacconi, 2010).

 

 No Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (Volp, 2009), referencial

 consta erroneamente apenas como substantivo, o que cria confronto com os

 dicionários em geral. O Houaiss (2009) o indica como adjetivo ou substantivo

 O Dicionário da Língua Portuguesa Comentado pelo Professor Pasquale (2009)

 dá referencial apenas como aquilo que é utilizado como referência. O

 Dicionário da Língua Portuguesa, elaborado por Antenor Nascentes (1988),

 lexicógrafo e filólogo, membro da Academia Brasileira de Letras, não dá

 registro de referencial, senão de referência.

 

 Um dos fatos mais frequentes na história da língua é a mudança de categoria

 dos nomes (J. Ribeiro, Curiosidades verbais, s.d., p. 94). A propensão de

 substantivar adjetivos para simplificação do vocabulário (lei do menor

 esforço) é trivial na língua desde o latim vulgar, em que se usavam aestivus

 (estio), por tempus aestivus; veranus (verão), por tempus veranus; persicum

 (pêssego) por persicum pomum (fruta persa) (R. Léllis, Português no colégio,

 1970, p. 58), de via strata ficou estrada, de meia calça, ficou meia, de

 terra pátria, ficou pátria (do pai).

 

 Semântica. Numerosos casos consagrados com os substantivos correspondentes

 são de difícil entrosamento com o nome original: ácido, negativo (imagem

 fotográfica de sombras invertidas), soldado, ouvinte, preservativo,

 conservante, comprovante. Em medicina, há lavado (peritoneal, gástrico,

 vesical), concentrado (de hemácias), diário (miccional), instrumental

 (instrumentos, equipamento), esclerosante (agente). No entanto, usar as

 lexias em suas funções sintáticas é favorável à precisão dos nomes

 científicos.

 

 O uso de adjetivo por substantivo pode enfraquecer o teor de seu significado

 já que implica dependência de um substantivo que lhe completa o sentido.

 Registram Brandão e colaboradores que substantivo é palavra variável com que

 se dá nome aos seres animados ou inanimados reais ou imaginários, e que, na

 sociedade das palavras, é o elemento mais importante. Informam em adição que

 adjetivo é palavra variável que junto ao substantivo dá-lhe qualidade. Na

 sociedade das palavras, o adjetivo está sempre junto do substantivo (Senado

 Federal: Manual de padronização de textos, 1997, p. 92).

 Frequentemente, em áreas especializadas se criam significados conotativos

 para termos existentes em lugar de formar novos nomes de modo adequado, e a

 participação sistemática de linguistas, especialmente os especializados em

 normas de morfologia e semântica, o que muito contribuiria para

 desambiguação desses nomes. A esse respeito, observam Fiorin e Savioli que

 há certos termos que, na linguagem científica, ocorrem com um significado

 preciso, restrito a esse tipo de linguagem, e que por isso devem ser

 empregados com o rigor que assumem nesse contexto específico, que é preciso

 cuidado para empregar esses termos, caso contrário, os enunciados ficam

 desfigurados e descaracterizados por fundirem desencontradamente termos de

 correntes científicas distintas (Para entender o texto: leitura e redação,

 2007, p. 209).

 

 A citação do substantivo correspondente ao adjetivo sempre que possível,

 demonstra organização de algo completo. Na sequência, alguns exemplos com

 respectivas complementações ou substantivos adequados: antimicrobiano

 (agente, droga), aspirado (material) de medula óssea, deferente (ducto,

 canal), clínico (médico), cortical (camada) da suprarrenal, diagnóstico

 (diagnose), a íntima dos vasos (camada), hióide (osso), instrumental no

 final (no fim), ordenado (remuneração), oculista (médico oculista),

 berçarista (médico), plantonista (médico), oficial (agente, militar),

 tireoide (glândula), deltóide (músculo), parasita (indivíduo – qualquer

 espécie), patógenos (germes, agentes), suicida. (indivíduo, paciente);

 italiano, francês, português e demais (idioma); às três (horas) da tarde;

 reta, curva (linha); circular (carta); catedral, pastoral, matriz (igreja);

 Física, Química (Ciência); locomotiva (máquina); branco, preto (de cor,

 indivíduo); adesivo/a (papel, fita); plástico (material, matéria plástica),

 mural (quadro), pré-natal (exame pré-natal, período pré-natal, assistência

 médica pré-natal), no intraoperatório (período), zoológico (jardim, parque),

 profissional (agente), vernáculo (português vernáculo). É curioso observar

 que o próprio nome substantivo é um adjetivo e é só essa sua classificação

 registrada no Volp (2004).

Morfologia. A morfologia pode ser um método indicativo de seleção de usos

 preferenciais. O sufixo -al é formador de adjetivos por excelência, embora

 alguns sejam substantivados (adicional, capital, geral, imortal) e outros

 sejam raramente usados como adjetivo (bacanal, beiral, bocal).

 

 Etimologia. Ramo da linguística que trata da origem das palavras, pode ser

 valioso elemento para determinar o sentido próprio de um nome. Com efeito,

 do latim re, que designa repetição, recuo, e ferre, levar, formou-se referre

 levar de novo, reconduzir, (A. Ferreira, Dic. Lat. Port, 1996), que

 originou referir em português, que significa expor, contar, relatar, fazer

 menção a, que deu referência, ato ou efeito de referir, e este deu origem a

 referencial, relativo a referência (Houaiss, 2009). Este é o sistema de

 sequência que serve de orientação quando se deseja selecionar um significado

 formal, tendo em vista que quase todas as palavras atuais em português

 guardam o sentido do étimo e os desvios podem trazer imperfeições por

 ambiguidade ou obscuridade.

 

 A criação de neologismos é realmente muito útil à língua. No entanto, é

 preciso que se formem de acordo com as normas da língua, estudadas e

 elaboradas ao longo de séculos por autorizados profissionais de letras.

 

 Assim, o sentido próprio das palavras em geral guarda relação com seu étimo.

 Desse modo, esse critério se torna regra.

 

 Estilo. Abonados autores sobre redação e metodologia científica recomendam,

 em redação científica, usar de termos precisos e das palavras em seu significado próprio.

 Mesmo como nome técnico, do modo em que ocorre na Matemática (Aurélio, 2009)

 na própria Gramática Gerativa por seu sentido linguístico, em Física

 (Houaiss, 2009) e em outros casos, referencial pode representar uso de cunho

 popular, situação em que justificadamente as funções sintáticas e léxicas

 cursam em livre uso.

 

 Nesse caso, não se trata de purismo, tendência desaconselhável de afirmar

 que, salvo as formas propostas em gramática, as outras estariam erradas.

 

 No justo saber linguístico, todas as formas existentes na linguagem

 constituem, com razão, patrimônio do idioma. Mas cabe afirmar que, em

 linguagem científica, é controverso o uso de termos que possam levantar

 questões, particularmente de profissionais de letras e de leitores

 perfeccionistas, detalhistas e exigentes, tendências próprias da ciência o

 que vai incluir sua linguagem, conforme proclamam bons autores em

 metodologia e redação científica.

 

 A proposição pela qual se diz que “a linguagem não tem lógica”, que “é assim

 que toda a gente usa”, que “isso sempre foi assim mesmo” e que “ninguém liga

 pra isso” pode configurar uma realidade linguística, mas não significa que é

 o correto e que deve ser aceita como padrão de uso em todas as variedades da

 língua. A elegância de estilo pode também ser contemplada no esmero pela

 lógica, no cuidadoso investimento no termo mais adequado, no abrigo de

 opções que não tragam questionamentos ou ao menos que tenham menor

 possibilidade de contestações.

 Mesmo como nome técnico, do modo em que ocorre na Matemática (Aurélio, 2009)

 na própria Gramática Gerativa por seu sentido linguístico, em Física

 (Houaiss, 2009) e em outros casos, referencial pode representar uso de cunho

 popular, situação em que justificadamente as funções sintáticas e léxicas

 cursam em livre uso.

 

 Nesse caso, não se trata de purismo, tendência desaconselhável de afirmar

 que, salvo as formas propostas em gramática, as outras estariam erradas.

 

 No justo saber linguístico, todas as formas existentes na linguagem

 constituem, com razão, patrimônio do idioma. Mas cabe afirmar que, em

 linguagem científica, é controverso o uso de termos que possam levantar

 questões, particularmente de profissionais de letras e de leitores

 perfeccionistas, detalhistas e exigentes, tendências próprias da ciência o

 que vai incluir sua linguagem, conforme proclamam bons autores em

 metodologia e redação científica.

 

 A proposição pela qual se diz que “a linguagem não tem lógica”, que “é assim

 que toda a gente usa”, que “isso sempre foi assim mesmo” e que “ninguém liga

 pra isso” pode configurar uma realidade linguística, mas não significa que é

 o correto e que deve ser aceita como padrão de uso em todas as variedades da

 língua. A elegância de estilo pode também ser contemplada no esmero pela

 lógica, no cuidadoso investimento no termo mais adequado, no abrigo de

 opções que não tragam questionamentos ou ao menos que tenham menor

 possibilidade de contestações

 

Dr. Simônides Bacelar

*Simônides Bacelar

Médico, pesquisador em língua portuguesa variante redação médica científica e vernaculista  pelo  Serviço de Apoio Linguístico

 Instituto de Letras, UnB

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Aprendendo com os amigos – -LÓGICO (SUFIXO)

-lógico (sufixo).

É questionável a utilização sistemática e desnecessária do sufixo -lógico como mera desinência de adjetivação sem que se refira a

estudo. Importa observar que esse uso é legítimo, tendo em vista sua tradicional ocorrência na linguagem e como fato da língua. Em outro aspecto, é necessário conhecer algumas questões desfavoráveis a respeito.

Do grego logikós, ón, relativo a palavra, a proporção, explicação, opinião, razão; de -logía, composto de -logo mais o sufixo. -ia, formador de substantivos, indicativo de ciência, arte, tratado, exposição cabal, tratamento sistemático de um tema (Houaiss, 2009).

Na expressão “alterações histológicas nos tecidos”, por exemplo, existe redundância. Termos com esse sufixo, a rigor, significam relativos ao estudo, ao raciocínio ou tratado correlato ao que se refere. Entidade nosológica significa entidade que estuda doenças, como a medicina, a medicina-veterinária, a odontologia. Metodologia simples é modo simples de estudar métodos, caso teratológico é caso de teratologia, ou seja, afeto ao estudo das deformações congênitas.

Não se diz tratamento clinicológico, nem exames laboratorialógicos. Fisiológico, ao pé da letra, expressa o estudo da natureza. Em grego, fisis, natureza, logos, estudo. Nas expressões soro fisiológico, produto fisiológico do organismo, digestão fisiológica, o elemento logos fica inaplicável (P. Pinto, Dic de Termos Médicos, 1962, p. 205).

Há na linguagem expressões defeituosas mas consagradas pelo uso comum e não se podem suprimir: jardim zoológico e mesmo soro fisiológico. Por outro aspecto, nas expressões – estudo histológico ou histopatológico, estudo citopatológico, estudo bacteriológico, estudo sobra. Pode-se dizer histologia ou histopatologia da amostra ou espécime, histopatologia, citopatologia do material colhido, bacteriologia da amostra sanguínea.

A maior parte dos nomes terminados em logia refere-se a estudos: dermatologia, pneumologia, anestesiologia, imunologia. Na realidade, a aplicação desse sufixo fora do seu valor literal é vastamente aceito no meio científico e não se pode nem se há de modificá-lo. Caso patológico, condição patológica, distúrbio psicológico, são expressões tão usadas que perderam seus conceitos etimológicos. Mas, para os que preferem linguagem científica atilada, bem cuidada, frequentemente se pode, sem prejuízo, omitir, substituir ou usar tais termos corretamente: método simples, em vez de metodologia simples; apresentar sintomas de febre e frio em vez de sintomatologia de febre e frio; doença, em vez de entidade nosológica ou patologia, amostragem celular, em lugar de amostragem citológica, bexiga de forma normal, por bexiga de morfologia normal.

Podem-se dizer para maior especificidade: caso neuropático, caso ortopédico, psiquiátrico, caso psicopático; caso de malformação congênita ou de monstruosidade, em vez de caso neurológico, teratológico, distúrbio de comportamento ou psíquico por caso psicológico, histopatologia em lugar de exame histopatológico, resultado negativo da citologia por citologia negativa, pronta toda a aparelhagem, em vez de pronta toda a aparatologia, conseguir uma morfologia (formatação) de dentes artificiais, agente etiológico por agente causal, neurodesenvolvimento por desenvolvimento neurológico e assim por diante.

Em seu Dicionário de Termos Médicos (ob. cit.), Prof. Pedro Pinto sugere soro natural, bióico ou biótico, por soro fisiológico. “Existem centenas, senão milhares, de casos idênticos, de nominações más, conservadas pela inércia” (Pinto, Dic. de Termos Médicos, 1958, p 463). Pode-se dizer solução salina a 0,9%.

Outros exemplos:

alterações imunopatológicas (imunopáticas),

alterações patológicas (mórbidas),

barreira bacteriológica (bacteriana);

cirurgião oncológico (cirurgião oncologista),

cirurgião dermatológico (cirurgião dermatologista),

técnica anestesiológica (anestésica),

condições psicológicas (psíquicas),

síndrome neurológica (neuropática),

lesões urológicas (uropatias),

defesa imunológica (imunitária),

aspecto radiológico (radiográfico),

tecnologia simples (técnica),

a trilogia febre, vômitos e dor abdominal (tríade),

prevenção mastológica (prevenção do câncer de mama;

consulta mastológica é expressão correta),

complicações oftalmológicas (oftálmicas),

condutas analógicas (semelhantes),

diagnóstico bacteriológico (bacterioscópico, baciloscópico),

diagnóstico coprológica (coproscópico),

doença reumatológica (reumática),

paciente oncológico (canceroso, com câncer),

perfil epidemiológico (epidêmico),

exame dermatológico (dérmico, de pele, cutâneo),

doença dermatológica (cutânea, de pele, dermatopatia),

condições meteorológicas (meteóricas),

perfil hematológico (hemático),

ciclo biológico (ciclo vital),

curativo biológico (biocurativo),

exame micológico (micótico),

coloração coprológica (cor das fezes),

condições climatológicas (climáticas),

cronológico (temporal, cronográfico, cronogrâmico),

atividade farmacológica da substância (farmacocinética da substância),

lesão odontológica (dentária, dental),

patologia cardiológica (cardiopatia),

alta nefrológica (alta da unidade de nefrologia),

diagnóstico pneumológico (diagnóstico da pneumopatia),

agente farmacológico (fármaco),

tratamento farmacológico (farmacoterapia, medicamentoso), d

oença hematológica (hematopatia, doença sanguínea,

doença do sangue, doença hemática),

sudorese endocrinológica (écrina),

transparência radiológica (radiotransparência, transparência radiográfica),

pomada dermatológica (pomada cutânea),

resposta virológica (viral).
Em grego, lógos também indica palavra, daí: análogo, epílogo, diálogo, ventrílogo. Também indica relação: autólogo, heterólogo, homólogo, ventrílogo. Mas, em relação aos nomes que indicam estudos, essa relação lógico/estudos é determinante e, assim, deveria ser considerada como de melhor uso. Bons orientadores de cursos de pós-graduação enfatizam a importância de usar linguagem científica com exatidão em situações formais. Nesse contexto, a observação dos sentidos precisos das palavras visa ao aperfeiçoamento da linguagem científica e vem a ser útil para afastar questionamentos.

Dr. Simônides Bacelar

Simônides Bacelar

Brasília, DF

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Em redação científica formal, aconselha-se pesquisar os termos precisos em lugar de registrar termos inexatos, indicados por aspas. Exs.:

 

A operação de Lind difere da técnica de Nissen por deixar uma porção do esôfago livre do “abraço” (envolvimento pelo) do fundo gástrico.

 

Foi solicitada a TC nas crianças obesas, com dor abdominal sem anormalidades e ultrassonografia “normal” (com aspecto de normalidade ou sem anormalidades à ultrassonografia).

 

O complexo antígeno-anticorpo é “capturado” (retido) por microesferas de agarose.

 

Não configuram erros tais usos, pois são bem compreensíveis, sobretudo em linguagem coloquial, quando as aspas têm sido sinalizadas com os dedos. Mas o uso exagerado de aspas pode muitas vezes refletir a falta de vocabulário na redação, outro uso do “jeitinho brasileiro” para disfarçar o conhecimento do brasileiro cada vez menor do léxico (Andréa Neiva, “Jeitinho”. Língua Portuguesa. 2008;2(11):16).

 

Ademais, a linguagem culta ou acadêmica ou técnica em português é extremamente rica em recursos, de modo que será sempre possível aplicar os recursos de linguagem adequada ou precisa. O uso de expressões populares podem facilitar a compreensão de leitores menos afeitos à leitura. Mesmo assim, a linguagem culta dispõe de termos também de fácil entendimento.

 

Simônides Bacelar

 

Brasília, DF


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Presidenta é forma questionável, mas constante de lei. De acordo com a Lei n. 2.749, de abril de 1956, artigo 1.o , usa-se, no feminino, o nome de cargos públicos ocupados por mulheres: presidenta, ministra, senadora, embaixadora (v. chefa).

 

Considera-se presidenta como neologismo, mas é recomendada por célebres autores como Evanildo Bechara, Celso Cunha, Cegalla e Rocha Lima (H. Consolaro, www.portaldasletras.com.br). Além disso, é ortografia oficial (VOLP, 2009), ao lado de presidente para os dois gêneros.

 

Os dicionários  trazem as formas presidente e presidenta.  Importa acrescer que os dicionários tem objetivo primário de registrar e explicar as significações das palavras. É suficiente alguém inventar uma palavra e que esta circule, para o dicionarista a inclua nos seus registros. Assim, é equívoco afirmação que presidenta é palavra correta porque consta em bons dicionários.

 

“Presidenta”, para muitos especialistas do idioma, tem sentido depreciativo (Martins E. De palavra em palavra. O Estado de São Paulo, 11.5.02) e pode, por vezes, denotar tendência feminista. A respeito de presidenta, J. Teixeira e col. acrescentam ser saudável manter distância de modismos linguísticos, que logo viram vícios (Veja, 11-8-2010, p. 96).

 

 Em rigor, presidente é propriamente um adjetivo, como se vê nos dicionários e indica aquele que preside. A terminação -ente denota formas adjetivas oriundas de um verbo: dirigir > dirigente; gerir > gerente (não se diz gerenta); pender > pendente; insistir > insistente; correr > corrente. Desse modo presidente origina-se de presidir como derivação própria por acréscimo do prefixo -ente, com valor de dois gêneros. A terminação –enta configura deformação do termo original. Se não há “presidento” como confronto, presidenta constitui formação questionável e mesmo dispensável.

 

“No português, existem os particípios ativos como derivativos verbais. Por exemplo: o particípio ativo do verbo atacar é atacante, de pedir é pedinte, o de cantar é cantante, o de existir é existente, o de mendicar é mendicante… Qual é o particípio ativo do verbo ser? O particípio ativo do verbo ser é “ente“. Aquele que é: o ente. Aquele que tem entidade. Assim, quando queremos designar alguém com capacidade para exercer a ação que expressa um verbo, há que se adicionar à raiz verbal os sufixos “ante” (existem governante e governanta), “ente” ou “inte“. Portanto, à pessoa que preside é presidente e não “presidenta“, independente do sexo que tenha. Se diz capela ardente e não capela “ardenta”; se diz estudante e não “estudanta”; se diz adolescente, e não “adolescenta”; se diz paciente, e não “pacienta”. Uns bons exemplos (ou seria mau?) seriam: A candidata a presidenta se comporta como uma adolescenta pouco pacienta que imagina ter virado eleganta para tentar ser nomeada representanta. Esperamos vê-la algum dia sorridenta numa capela ardenta, pois esta dirigenta política, dentre tantas outras suas atitudes barbarizentas, não tem o direito de violentar o pobre português, só para ficar contenta.” (Movimento Nacional em Defesa da Língua Portuguesa, Manoel, femininos & masculinos: presidente ou presidenta? Afinal, qual é o certo?http://www.novomilenio.inf.br/idioma, acesso em 23 out 2010).

 

A lingua é dinâmica e ocorrem sempre e naturalmente transformações. Contudo, a preferência pela norma comum evita questionamentos, sobretudo em situações formais.

 

Simônides Bacelar

Brasília, DF

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Nodulação
Nome muito usado em medicina como sinônimo de nódulo, mas inexiste nos dicionários de referência e não há seu registro no Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, oficialmente elaborado pela Academia Brasileira de Letras (2009). Supõe-se provir do verbo nodular, formar nódulo, inexistente no léxico, salvo como adjetivo no sentido de relativo a nódulo. Em rigor nodulação significa formação de nódulo ou ato de formar nódulo.
Em medicina aparece em frases como:
“O paciente apresenta nodulações na região axilar direita” ,
“A nodulação ocupava grande parte do hilo hepático”,
“Foi feita biopsia da nodulação”.
Pode-se usar em seu sentido mais adequado: A nodulação tornou-se dolorosa devida à compressão neural.
Em geral, os nomes que terminam em -ção indicam ato ou efeito da respectiva ação indicada pelo verbo do qual são derivados.
Tendo em vista questionamentos a respeito dessa denominação, aconselha-se a usar o termo nódulo nos contextos da linguagem formal científica. Acrescenta-se que o uso de nodulação para designar nódulo pode causar ambiguidade em razão do outro significado, ou seja, formar nódulo. Na seguinte frase, ocorre essa dubiedade de sentido: As nodulações neurais na doença de Reklinghausen podem se estender e serem dolorosas.
Não é errôneo usar nomes inexistentes nos dicionários, visto como podem aparecer em suas reimpressões futuras se o termo for muito usado e fizer parte da linguagem. No entanto, convém observar as respectivas normas gramaticais na formação de novos termos para que não sejam registrados formas e significados defeituosos no seio da linguagem médica.

Simônides Bacelar
Brasília, DF

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Apresentar

Termo sobremodo desgastado pelo uso frequente em relatos médicos. Amiúde, é tradução do inglês to present. Integram o linguajar médico construções como:

“O paciente apresenta dor abdominal”,

“Doente apresentou azia”,

“Pacientes apresentaram 20% de limitação pelo questionário”,

“Nenhum paciente apresentou anticorpos IgM”,

“Esta paciente apresentou adenomas colorretais”.

Em rigor, apresentar tem significado denotativo de mostrar, ostentar, exibir, expor, pôr à vista, Mesmo no sentido de explicar, expressar, tem o sentido de expor: apresentar a verdade, apresentar as razões.

Assim, usar o verbo em relação a sintomas, especialmente os que não podem ser trazidos à vista, pode não parecer bom estilo. Frases como “Paciente apresenta geofagia”, “Criança apresenta coprofagia” quando se refere apenas às queixas, pode constituir uso impróprio. Pode-se dizer que o paciente apresenta queixas de geofagia, ou relato de coprofagia.

Apresentar é de uso mais adequado em relatos de sinais. O doente pode, de fato, aos olhos do examinador, apresentar icterícia, mucosas descoradas, deformidades visíveis, sinais de dor abdominal, sinais de depressão e casos análogos.

Além disso, de regra, não é recomendável usar repetidamente o mesmo termo em um texto. A Amiúde, em lugar de “paciente apresenta…”, pode-se dizer: paciente sofre de…, paciente tem…, paciente com… e outros meios equivalentes.

A expressão ser portador de é bem-vinda e está consagrada na linguagem médica, mas há questionamentos a respeito por ser considerada galicismo por bons profissionais de letras, como Tenório d”Albuquerque (Dicionário de dificuldades, erros e definições de português, 1936) e Vasco Botelho do Amaral (Dicionário de Dificuldades da Língua Portuguesa, 1938). Frequentemente é tradução do inglês carrier. Outros consideram tal indicação como purismo.

Para bons linguistas, o purismo caracteriza atitude inconsistente, em particular quando indica como errados usos fora do padrão culto com base em escritores clássicos, mesmo se amplamente aceitos e consagrados na linguagem. Assim, rejeitar portador por ser galicismo ou aceitá-lo por ser fato da linguagem é conduta de cunho individual.

Simônides Bacelar

Brasília, DF

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O uso de construções com artigo único referente a sequência de nomes com diferentes gêneros e números são comuns na literatura e constituem uso legítimo, pois são fatos da língua. Exs.:

As matérias e artigos assinados não refletem a opinião da editoria.

Paciente com lesões na cabeça e pescoço.

As mulheres, idosos e crianças foram logo atendidos.

Esse uso está consagrado pela Lei do Uso e reflete praticidade. Contudo, é interessante considerar alguns aspectos que poderiam levar ao aperfeiçoamento redacional.

Nos casos em estudo, nota-se a falta de paralelismo, com disposição imperfeita, o que pode inspirar interrogações. Embora tenha lógica e seja muito usada, sobretudo em textos jornalísticos, questiona-se  também a construção em que o artigo referente ao primeiro nome serve igualmente em gênero e número aos seguintes, mesmo que todos sejam do mesmo gênero e número:

Foram lesados os ombros, membros, pés e dedos da mão esquerda.

Foram examinadas a cabeça, mama esquerda, mão direita, região inguinal direita.

Nesses casos, pode-se omitir o artigo:

Foram lesados ombros, membros, pés e dedos da mão esquerda.

Foram examinadas cabeça, mama esquerda, mão direita e região inguinal direita.

Do ponto de vista gramatical normativo, quando os gêneros e os números forem diferentes, podem ser usados para cada um deles os artigos correspondentes:

Paciente com lesões na cabeça e no pescoço.

As mulheres, os idosos e as crianças foram logo atendidos.

Bons autores de Gramática orientam como usar artigos definidos em situações de sequências:

1) C. Cunha & L. Cintra (Nova Gramática do Português Contemporâneo, 1998, p. 226): “Quando antes do primeiro substantivo de uma série, o artigo deve anteceder os substantivos seguintes, ainda que sejam  todos do mesmo gênero e do mesmo número. Exs.: Para ganhar o céu, vendeste a ira, a luxúria, a gula, a inveja, o orgulho, a preguiça, e a avareza (Olavo Bilac). Cantava para os anjos, para os presos, para os vivos, e para os mortos (J. Lins do Rego).”

2) Rocha Lima (Gramática normativa da língua portuguesa, 1996, p. 298): “Repete-se o artigo na distinção de gênero e número: o patrão e os operários, o genro e a nora

3) Napoleão M. de Almeida (Gramática metódica da língua portuguesa, 1998, p. 133): “Quando o primeiro elemento vem antecedido de artigo, este deve aparecer também antes dos demais”: São línguas vivas o português, o italiano, o inglês, o espanhol, etc.

Também autores jornalistas assumem esse uso:

1) Eduardo Martins (O Estado de São Paulo, Manual de redação e estilo, 1996, p. 43): “Quando empregados com um substantivo de uma série, o artigo deve ser usado para os demais: O Brasil, a Argentina e o Uruguai discutiram… e não: O Brasil, Argentina e Uruguai discutiram…

2) Luiz Garcia (O Globo, Manual de redação e estilo, 2000, p. 104): “Se existe artigo antes do primeiro substantivo de uma série, ele tem de existir antes de todos os outros. Certo: Embarcou para a Alemanha, a França e a Itália, ou: Embarcou para Alemenha França e Itália. Errado: Embarcou para a Alemanha, França e Itália”.

A gramática normativa pode ser um exemplo de método, de organização e de discipina aceitável. Bons linguistas apregoam com razão que, na linguagem geral, os conceitos de certo e errado causam preconceitos, atitudes danosas e restritivas aos locutores de uma língua. Atestam com justiça que as variedades contidas na linguagem falada e na linguagem escrita são fenômenos que fazem parte da linguagem em seu mister principal – a comunicação. Declaram também que a existência do português padrão é um fato e advogam sua utilidade. Segundo Mário Perini, é necessário ensinar o português padrão, e concorda que o ensino normativo não deve ser suprimido, mas que deve ser atacado com muita cautela e com toda diplomacia, manejado com cuidado, colocá-lo em termos mais realistas para não desencorajar iniciativas no campo da linguagem (Mário Perini, Gramática descritiva do português, 2007, p. 33-34).

Para Fiorin, a abordagem descritiva adotada pela Lingüística entende que as variedades não padrão do português caracterizam-se por um conjunto de regras gramaticais que simplesmente diferem daquelas do português padrão. Acrescenta que a gramática de uma língua ou de um dialeto é a descrição das regularidades que sustentam sua estrutura (J.L. Fiorin e outros, Introdução à Lingüística, 2007, p. 21).

Tendo em vista o exposto, considerando-se que a linguagem científica e a linguagem normativa  devem ser expressas com clareza, exatidão e concisão, como é amplamente ensinado no âmbito científico, a variedade normativa do padrão culto está aqui indicada, por sua formalidade, disciplina e organização metódica.

Simônides Bacelar

Inst. de Letras, UnB

Serviço de Apoio Linguístico

Terminologia Médica

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De ordinário, adjetivos e advérbios denotam opinião ou interpretação do redator, o que pode ser inadequado num relatório técnico, que deve conter números, medidas, dados.
Algumas adjetivações são anticientíficas por terem sentido de aliciamento dos leitores: resultados maravilhosos, tratamento espetacular, recuperação inigualável, resposta dramática, cura formidável.
Em outros casos, há sentido de ambiguidade: ferida cortante ou perfurante,hormônio estressante, abdome obstrutivo, paciente com história alérgica oupassado alérgico, hipótese diagnóstica (hipótese de diagnóstico), infraçãoética (infração antiética), disfunção erétil (disfunção da ereção), assédiomoral (assédio à moral), infração legal (infração ilegal).
Alguns cochilos podem produzir adjetivações risíveis: ingestão monetária poringestão de moeda, sintomas ansiosos por sintomas de ansiedade, tratamento agudo por tratamento imediato.
Ainda, a adjetivação pode ser prolixa ou redundante, como em evidência concreta, fato verdadeiro, certeza absoluta, surpresa inesperada.
Nos comunicados científicos, deve-se ter o cúmulo de expressividade com omínimo de palavras (Silva & Lopes, 1985). Na sequência, exemplos de diversos casos; entre parênteses, indica-se o melhor termo:
absolutamente perfeito (perfeito);
azul, quanto à cor (azul);
bastante claro ou óbvio (claro ou óbvio);
na forma cilíndrica (cilíndrico);
completamente envolvido (envolvido);
contemplar de frente (contemplar);
deliberadamente escolhido (escolhido);
de tamanho pequeno (pequeno);
perfeição absoluta ou absolutamente perfeito (perfeição, perfeito);
totalmente normal (normal);
enterocolite perfurada (enterocolite com perfuração intestinal);
não verdadeiro (falso);
negação categórica (negação);
pequeno ou grande, em tamanho (pequeno ou grande);
poucos, quanto ao número (poucos);
prova insofismável ou concludente (prova);
quase perfeito (imperfeito);
reabilitação fecal (do hábito intestinal);
realmente perigoso; (perigoso);
verdadeira investigação (investigação);
diagnóstico incidental (por lesão encontrada incidentalmente);
queixas ejaculatórias (sobre ejaculação);
queixas dolorosas (de dor),
queixas urinárias (de distúrbios urinários),
doente respiratório: testes de alergia em pacientes respiratórios (pacientes
com doenças do aparelho respiratório),
testes alérgicos (testes de alergia),
doença imune (imunopatia),
criança invaginada (com invaginação intestinal),
paciente destorcido (com torção do pedículo testicular desfeito),
miocardiopatia dilatada (com cardiomegalia ou com dilatação cardíaca),
síndromes convulsivas (quadros de convulsão),
paciente fissurado (paciente com fenda labial, fenda palatina ou fenda
labiopalatina),
cirurgia refrativa (cirurgia ou correção cirúrgica de distúrbios de
refração),
esfregaço inflamatório (aspecto inflamatório);
mentalidade hospitalar (no âmbito hospitalar);
paciente com urina fina (com jato urinário fino).
Paciente vomitou verde (teve vômito verde).
Outra forma de adjetivação desconcertada, por dar impressão de erro:
relatório de dores mensal (relatório mensal de dores),
banco de dados eletrônico (banco eletrônico de dados).
Muitas formas de adjetivações estão consagradas na linguagem médica e se tornaram fatos legítimos da língua, mas não poderia ser reprovável a buscado aperfeiçoamento.
Simônides Bacelar

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Sentido exato existe?

Não existe em português um só termo que não seja próprio, salvo o de algum
rio, cidade, vila ou monte (F. Constâncio, Novo diccionario critico e
etymologico da língua portuguesa, 1845). Contudo, numerosos vocábulos podem
ter sentidos transformados pela evolução da língua. Sentido exato torna-se
valor relativo nesses casos.

É necessário considerar o que as palavras comunicam na atualidade, não o seu
valor histórico e etimológico, cujo uso inadvertido poderá ser motivo de
confusão. Por exemplo: chamar procede do termo latino clamare, que significa
gritar. Pela etimologia, está incorreta a expressão chamar baixinho (Mário
Barreto, Novos estudos da língua portuguesa, 1980, p. 313).

Caldo procede de cálido: seria pleonasmo dizer caldo quente (idem).

Calçar procede de cal, calcanhar, verbo adequado para calçar sapato, meias,
chinelos, mas impróprio em calçar luvas (idem, p. 316).

Imbecil antes significava fraco, sem forças, e idiota era indivíduo afeito
ao isolamento.

Testa significou originalmente caco de cerâmica.

Embarcar num ônibus ou num avião seria errôneo: embarca-se num barco.

Anedota, significa não publicado, grave significa pesado; exacerbar, tornar
mais azedo; pontífice, construtor de pontes; artéria indica que conserva ar;
célula, pequena cela.

Piscina e aquário têm sentidos trocados.

Setembro, outubro, novembro e dezembro não correspondem à ordem numérica que
indicam seus nomes em relação ao número de meses do ano.

Veneno e demagogo em suas origens significavam coisas boas.

Bizarro originalmente era colérico, irado.

Água doce não quer dizer água açucarada e não é o contrário de água salgada.

Mal-assombrado deveria ser bem-assombrado.

Escola, procede do grego scholé, ócio, repouso.

Abrigo nos vem do latim abricus, aberto, exposto aos raios do sol.

Estrada era via pavimentada,

Alpinismo pratica-se fora dos Alpes.

Delirar, do latim de, que denota separação, e lirare (de lira, leira),
traçar um sulco, significava sair da linha reta, desviar-se, extraviar.

Cadela é diminutivo de catus, gato em latim.

Não obstante esses exemplos, na linguagem científica científica, quando
possível, e quase sempre é, importa procurar o nome exato, o termo técnico
ou acadêmico no uso da linguagem formal. A maioria das palavras portuguesas guardam o
sentido original desde o latim.

A consulta metódica aos dicionários (não e
bastante usar apenas um) em busca do sentido próprio das palavras evitará
uso desnecessário e até questionáveis de gírias, estrangeirismos, sentidos
figurativos ou por extensão, o que propiciará linguagem mais bem cuidada,
estilo mais claro.

Pode-se bem dizer, por exemplo,: usar ou vestir as luvas,
em lugar de “calçar as luvas”; entrar num avião, por “embarcar no avião”;
dar alegrias, em vez de “proporcionar alegrias”; anemia grave, em vez de
“anemia severa”; em lugar de dizer “paciente com injúria grave”, pode-se
dizer paciente com lesão grave.

Alguns termos, por não terem sinônimos, como
artéria e célula, resta usá-los no sentido consagrado, ainda que o étimo
signifique outra coisa.

Simônides Bacelar

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